Se na adolescência o desafio é a construção da identidade, para os jovens adultos vai acontecer os questionamentos sobre as decisões:
Será que é com isso que eu quero trabalhar para o resto da minha vida? Será que esse relacionamento me faz feliz? Mudo de emprego ou de profissão? Vou trabalhar em regime de CLT ou vou empreender? Me caso ou termino meu relacionamento?
Existe a vivência simultânea da necessidade e o medo de decidir. Ao mesmo tempo se deseja e necessita decidir, mas a escolha implica em arriscar em algo para qual não existe nenhuma garantia e essa incerteza gera o medo.
A decisão necessita do pertencimento e do projeto de futuro. Para Winnicott a vida adulta coloca três tarefas: manter-se em processo criativo e vivo até a morte; aceitar a imperfeição, a impotência e a finitude; poder envelhecer e morrer.
A maturidade não é garantia de uma vida segura e livre de sofrimentos e crises existenciais. O homem é um vir-a-ser, ou seja, sempre em construção que só será concluída com a morte.
Já dizia Riobaldo personagem de Guimarães Rosa em “o grande sertão veredas”, o que a vida quer da gente é coragem. Esta coragem é a capacidade de ver, aceitar e manipular com criatividade a fragilidade da condição humana, sendo esta capacidade a característica de adultos sadios e maduros.
A maturidade está também implicada na possibilidade da realização dos projetos, sonhos e das decisões. Através da autorrealização é possível alcançar uma certa estabilização.
Para dar conta das tarefas existenciais da maturidade o homem vai se descobrir como coexistente com o mundo, homem e mundo se constroem mutuamente.
Portanto é extremamente importante o contexto, tempo e espaço que essa coexistência acontece, ou seja, o mundo contemporâneo. E esse tempo, correção, a responsabilidade não é do senhor tempo e sim do modo de nos relacionarmos no pós moderno tem produzido segundo alguns filósofos como Bayman e Han, sociedades líquidas, sociedade do cansaço e da transparência.
Mas, como isso afeta a maturidade? A sociedade sem negatividade, ou seja, positiva, tem como características: ações operacionais, submetidas aos processos contabilistas, cálculo e controle. Falta projeção de destinos e eventos, não existe marcos.
Para Viktor Frank em seu livro “Em busca de sentido” o que sustentava a luta pela manutenção da vida no campo de concentração era a projeção dos marcos, a espera pela páscoa, pelo natal, quando se perdia a capacidade de se projetar num evento futuro o prisioneiro logo sucumbia, perdia o sentido da vida e vinha a falecer.
A violência da sociedade da transparência é aplainar o homem até transformá-lo em um elemento funcional do sistema, um algoritmo. Assim, as relações nessas sociedades não valorizam a existência do outro, o imperativo da transparência impede, a ternura e o respeito pelo outro, a atitude de distância, a vergonha e a autonomia que é a aceitação daquilo que não compreendemos no outro.
Tudo isso, o excesso de positividade, a negação da negatividade vai causar esgotamentos, cansaços, depressões.
Você se reconheceu em algum desses lugares? Já se perguntou ou jogou no google: Quando procurar um psicólogo?
Voltando ao Viktor Frankl, “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida" e ”Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”.
A perspectiva fenomenológico-existencial que é a abordagem que orienta meu trabalho como psicoterapeuta vai propor valorizar as relações humanas.
O tratamento psicológico com adultos vai escutar o adulto, procurando encontrar no dito ou no não dito a criança ou o adolescente, que esse adulto já foi num tempo não tão distante assim, para buscar a compreensão, não porque a infância seja a resposta para todas as questões, mas sim porque como nos ensina Kierkegaard “A vida só pode ser entendida olhando para trás; mas deve ser vivida olhando para frente”.
E talvez o que vai aparecer no retrovisor seja só o ontem, passado, ou o hoje, presente e quem sabe o amanhã, o futuro e não a infância ou adolescência. Mas, esse olhar pode ser doloroso, sofrido, por isso é muito importante que ele aconteça sempre no tempo e modo que o cliente conseguir.
Não se deve ter pressa quando nos é confiado o lugar de testemunha do desnudar da alma. Ao psicoterapeuta cabe as condições prévias para a toda a humanidade: aceitar o outro tal como ele se apresenta, respeitar o outro, mobilizar afetos, contemplar.
A psicoterapia fenomenológica vai buscar ampliar a compreensão e ressignificar o modo de ser e de se relacionar, resgatando o significado do vínculo, da reciprocidade e do diálogo.
Para então de posse de liberdade para ser seu modo mais autêntico, consciente o adulto possa seguir como orienta Kierkegaard, vivendo a vida olhando para frente.
Escrito por: Psicóloga Sandra Gianesini
Ana Maria. A reinstalação do si-mesmo: uma compreensão fenomenológica da adolescência à luz da teoria do amadurecimento de Winnicott. Arquivos Brasileiros de Psicologia [en linea]. 2006, 58(2), 51-66[fecha de Consulta 7 de Junio de 2025]. ISSN: 0100-8692. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=229017510006
RANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 2010.
Magnabosco, Maria Madalena. Apostila da disciplina: Psicopatologia Fenomenológica.
KIERKEGAARD, Søren. Diário de um Sedutor. São Paulo: Nova Cultura, 1988. (Referência completa da obra)